
A dívida pública compõe a totalidade do dos empréstimos realizados pelo governo para o financiamento de seus projetos ou para cobrir despesas da gestão. Nesse sentido, títulos públicos são emitidos e comprados por investidores que, em troca de juros, emprestam dinheiro ao governo. Sendo interna, o empréstimo acontece no país; sendo externa, o empréstimo ocorre advindo de governos estrangeiros, instituições financeiras internacionais ou investidores estrangeiros. O endividamento público acontece quando o governo gasta mais do que arrecada com impostos ou outras fontes de receita. Altos níveis dessa dívida podem levar a problemas econômicos, como aumento dos juros pagos sobre a dívida, inflação e diminuição da confiança dos investidores na capacidade do governo de pagar suas obrigações.
A dívida privada é o montante total de obrigações financeiras de empresas, organizações e indivíduos para com credores externos ou internos que não sejam governamentais. Assim como a dívida pública, a dívida privada também requer que os devedores paguem juros sobre os empréstimos e cumpram prazos acordados para reembolsar os montantes devidos. A dívida privada permite que empresas e indivíduos obtenham financiamento para investir, crescer e adquirir bens e serviços necessários. No entanto, altos níveis de dívida privada podem ser um sinal de alerta, especialmente se os devedores enfrentarem dificuldades para pagar suas obrigações. Quando a dívida privada se torna insustentável, pode levar a inadimplências em larga escala, crises financeiras e impactos negativos na economia como um todo. Portanto, é importante que os devedores e credores mantenham uma gestão responsável da dívida e do risco associado.
Muitas vezes, há críticas a respeito do extremo endividamento público servir de exemplo para o endividamento privado. No romance O dinheiro, de Arthur Hailey, o personagem Lewis avalia os impactos da impagável dívida pública estadunidense, como a emissão de mais dinheiro e a inevitável inflação; ademais, Lewis comenta como a dívida pública, como mau modelo de gestão de gastos, estimula a dívida privada. Na mesma perspectiva, o sociólogo Zygmunt Bauman, em sua obra Vida para consumo, de 2007, comenta como o endividamento público dos Estados Unidos, ainda que gigantesco e incontornável, paradoxalmente, representa o modelo de sucesso administrativo para muitos indivíduos, que se afundam cada vez mais numa atividade consumista a ampliar a dívida privada.
“Os Estados Unidos também contraíram dívidas maiores do que poderão jamais pagar; dívidas que estão se expandindo como uma monstruosa bola de neve. Os governos da América têm gastado bilhões de maneira desordenada, emprestado desordenadamente, acumulado dívidas mais do que qualquer pessoa possa crer; então passaram a usar mais e mais sua máquina de imprimir dinheiro, para fazer mais papel-moeda e, em consequência, mais inflação. E as pessoas, os indivíduos, os cidadãos, seguiram tal exemplo. Lewis apontou na direção do carro fúnebre à frente. – Banqueiros como Ben Rosselli são exemplos, acumulando dívidas sobre dívidas. Você também, Alex, com o seu cartão de crédito Keycharge e a facilidade de gastar dinheiro. Quando é que as pessoas aprenderão a lição de que não existe um débito fácil, assim como não existe o alegado crédito fácil? Digo a vocês, chego até a afirmar, que a América, como nação, e os americanos, como indivíduos, perderam aquilo que de fato possuíam: saúde financeira.” HAILEY, Arthur. O dinheiro. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1975. p.121-122.
“Essa vida a crédito, em dívida e sem poupança é um método correto e adequado de administrar os assuntos humanos em todos os níveis, tanto no da política de vida individual como no da política de Estado, que se ‘tornou oficial’ com a autoridade da mais madura e bem-sucedida das atuais sociedades de consumidores. Os Estados Unidos, que têm a mais poderosa economia do mundo, vista como modelo de sucesso a ser seguido pela maioria dos habitantes do globo que estão em busca de uma vida satisfatória e agradável, talvez estejam mais afundados em dívidas do que qualquer outro país na história.” BAUMAN, Zygmunt. Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadoria. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008. p.104.