
Antes do aparecimento da alegoria da mão invisível de Adam Smith em 1776, Daniel Defoe, com o seu romance Robinson Crusoé, em 1719, faria uso dessa alegoria de um modo diferente. Inicialmente, a mão invisível de Crusoé deriva de um poder espiritual superior (Deus) que se expressa por meio de um conselho ancestral e realiza uma correção moral nos destinos humanos. No desenvolver da narrativa, por meio da reflexão de Robinson Crusoé sobre essa mão invisível, cria-se uma aparente dicotomia entre o homem econômico, que busca a prosperidade sem levar em consideração o temor a Deus ou as limitações do entendimento da usura como pecado, e o homem religioso, que limita suas ações para não ofender a Deus e arrepende-se de quaisquer desvios de conduta (corrigindo seu curso moral). Entretanto, na conclusão do romance, esse pensamento de Crusoé é modificado. A Mão Secreta da Providência reconcilia os esforços e sacrifícios do homem econômico com o temor e o respeito do homem religioso, ofertando àqueles que se veem empenhados ética e devotamente em seus trabalhos riqueza material e espiritual. Com uma vertente explicitamente protestante, Defoe reinterpreta a sua história de náufrago tal como se fosse o Jó da Bíblia, que, antes de atingir uma demasiada prosperidade, passa por uma série de provações e testes. Esse tema de reconciliação entre religião cristã e economia por meio da interpretação protestante foi amplamente discutido por Max Weber no início do século XX com a obra A ética protestante e o espírito do capitalismo.