
Uma das alegorias do romance Maldita, de Chuck Palahniuk, de 2014, o rudismo surge como uma nova religião comandada pelos pais multimilionários da protagonista Madison por meio de uma campanha publicitária massiva. Segundo a versão da revelação do rudismo, a filha morta Maddy, como um anjo do céu, entregara um plano seguro e à prova de falhas para a conquista do Paraíso Celestial. Na concepção do rudismo, quanto mais se xinga e se ofende o próximo, mais há a possibilidade de salvação da alma pelos céus, sem qualquer distinção social, étnica ou cultural. No decorrer do romance, por causa do rudismo, os recém-falecidos chegam ao Inferno extremamente irritados por terem conservado todo um estilo de vida baseado nessa expectativa de adentrarem o Paraíso e serem salvos pelos preceitos da religião rudista. Por fim, o rudismo é entendido como uma prática nociva, degradante e disfarçada de boa e redentora. Preenchido de previsões generosas e de expectativas demasiadas, o rudismo está ligado à aplicação da publicidade massiva e tenta abranger os costumes e os simbolismos de diversas culturas. Em meio ao contexto da crise dos mercados nos Estados Unidos em 2008, Palahniuk cita o rudismo e as consequências de tal convicção religiosa como se estivesse apresentando a atmosfera consumista estadunidense. Tanto o rudismo como o consumismo são estimulados em meio a imagens de salvação (um do espírito, outro da economia), mas que resultam em danos (um na perdição do Inferno, outro no colapso econômico); tanto o rudismo como o consumismo devem parte considerável de seu sucesso à ferramenta da propaganda; tanto o rudismo como o consumismo são marcados por previsões que prometem satisfação e felicidade que não se realizam; tanto o rudismo como o consumismo buscam abranger todos os tipos sociais e culturais. Palahniuk, em Maldita, não está preocupado em falar sobre religião, apenas utiliza tal figura para retomar a sua crítica à prática exacerbada do consumo na sociedade estadunidense.