Um encaixe narrativo utilizado por Leonardo Faccini observa-se no capítulo doze do romance A face viva da moeda, de 2008, em que o autor insere na narrativa o conto A Síndrome de Perry White, escrito pelo personagem Christian. O conto narra o momento em que o editor-chefe Perry White, do jornal Daily Planet, demite Clark Kent, identidade secreta do Super-Homem. Após ser demitido, Clark acaba ficando deprimido e, com o tempo, ele é encontrado morto em seu apartamento.

Leonardo Faccini utiliza o conto escrito pelo personagem Christian como encaixe narrativo para explanar a questão do desemprego e do consumo. Para Christian, atualmente algumas empresas agem como Perry White: demitem seus funcionários com o intuito de reduzir custos. Porém tal atitude não soluciona o problema, apenas acaba por reduzir a capacidade de consumo do funcionário demitido e, como política de larga escala a ser implementada por várias empresas ao mesmo tempo em épocas de crise, diminui as chances de se reverter o quadro de retomada de crescimento de lucros. Segundo Christian, a capacidade de consumo é considerada de grande relevância para depender apenas do valor que as empresas atribuem ao trabalho. Dessa forma, são sugeridas soluções para a política econômica a fim de que os consumidores tenham acesso ao dinheiro, seja por meio de impostos negativos (transferência de dinheiro público para os desempregados), seja por meio de atribuição de vantagens à manutenção das contratações para a proteção da força consumista advinda do trabalho. Por fim, Christian enxerga no Clark Kent, ao mesmo tempo, a vulnerabilidade do trabalhador ordinário e o Super-Homem, ou seja, a força do consumo capaz de combater as crises do cenário econômico.

“No caso de Clark Kent e do Super-Homem, todos precisam fingir não saber que ambos eram a mesma pessoa. No caso da realidade atual, também todos no fundo sabem que, no final das contas, os empregados são os consumidores, e que quase ninguém fala ou parece se preocupar com isso, seja na esfera política, empresarial ou acadêmica. Nesse ponto, Henry Ford talvez tenha sido o único empresário com profunda consciência de que seus funcionários deveriam ganhar o suficiente para comprar os carros que eles ajudavam a fabricar. Isso por que o genial magnata via em cada operário seu não apenas um empregado, mas o cidadão americano comum, ou seja, uma unidade de demanda” (FACCINI, Leonardo. A face viva da moeda. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008. p.208).