
Em um segundo momento, quando a realidade da Covid-19 se impôs, o Ministério da Economia do Governo Bolsonaro teve que rever sua trajetória de demanda de gastos para o governo. Numa das declarações do ministro Paulo Guedes, de que a carruagem viraria abóbora depois da meia-noite, a impressão que se teve foi que o governo escolheu compreender que agora estava lutando em duas frentes de guerra e com inimigos diferentes: contra a Covid-19 e contra a insalubridade econômica. Embora o combate à Covid-19 passasse a pertencer à agenda do Ministério da Economia, os gastos com a renda de assistência social como forma de amparar a crise em larga escala na área da saúde, nessa fase, foram entendidos como temporários e reconheceu-se que estariam desacelerando a determinação liberal e de austeridade da equipe econômica – a voltar assim que a pandemia estivesse controlada. Como uma forma de réplica, Júlia Braga e Franklin Serrano, em 2020, com o artigo A dívida pública e o complexo de Cinderela, afirmaram que o ministro da Economia estava tomado por um complexo de Cinderela; ou seja, por um lado, ele insistia no discurso da austeridade a tornar a economia nacional sem chance de estimular maior força e autonomia aos seus setores de produção interna (uma economia trancada na casa de uma madrasta má), por outro, ele estaria contaminado por uma esperança fantasiosa de que um elemento externo (investimento estrangeiro tal como uma fada ou um príncipe distante) milagrosamente viria salvar a realidade cativa da economia nacional.
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