
A expressão instinto animal foi introduzida por John Maynard Keynes em seu livro Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda e, mais tarde, ganhou destaque por meio da economista Joan Robinson. Segundo Keynes, essa metáfora serve para explicar o comportamento dos investidores e empresários no mercado. Ele sugere que as decisões de investimento muitas vezes não são guiadas por análises racionais ou modelos matemáticos precisos, mas sim por impulsos instintivos, emoções e intuições dos empreendedores. Ou seja, são as motivações subjetivas que desempenham um papel crucial na tomada de decisões econômicas, especialmente em situações de incerteza.
Keynes usou o termo “instinto animal” para descrever a tendência humana de agir com base em intuições ou impulsos espontâneos, ao invés de apenas depender de cálculos racionais ou previsões de longo prazo. Em um ambiente econômico, ele acreditava que os empresários muitas vezes se arriscam em novos empreendimentos não apenas porque os números fazem sentido, mas porque eles possuem um sentimento ou uma crença de que o investimento valerá a pena. Este comportamento é especialmente visível em momentos de instabilidade econômica, onde as previsões racionais são obscurecidas pela incerteza. Nessas situações, os instintos animais dos empreendedores podem levar a um otimismo espontâneo que impulsiona a atividade econômica, mesmo quando os dados objetivos sugeririam cautela.
Joan Robinson, uma economista influente e contemporânea de Keynes, popularizou essa ideia ao criticar a eficiência dos modelos matemáticos tradicionais na previsão de decisões de investimento. Ela argumentava que esses modelos eram limitados porque falhavam em capturar as nuances do comportamento humano. Na visão dela, o investimento é, em grande parte, uma consequência das emoções, impulsos e desejos dos empresários – uma área onde modelos matemáticos rígidos têm pouco alcance. Em outras palavras, Robinson sustentava que as teorias econômicas que tentam prever o comportamento de mercado através de equações e fórmulas não conseguem explicar completamente por que os empresários decidem investir em certos momentos e em determinadas condições. Eles são movidos por fatores psicológicos, como confiança, otimismo, medo e intuição, que escapam das análises puramente racionais.
O conceito de instinto animal é particularmente relevante quando se analisa o comportamento dos mercados financeiros e das decisões empresariais em contextos de incerteza. Por exemplo, durante uma crise econômica, os investidores podem ser dominados pelo medo e, mesmo que os fundamentos econômicos estejam sólidos, uma onda de vendas pode ocorrer devido à falta de confiança no futuro. Da mesma forma, em períodos de otimismo exacerbado, os empresários podem investir massivamente em novos projetos, alimentando bolhas especulativas que eventualmente podem levar a um colapso do mercado.
O instinto animal também ajuda a entender por que às vezes há um descompasso entre o que os modelos econômicos preveem e o que realmente acontece no mundo real. Enquanto os modelos se baseiam em suposições racionais sobre o comportamento dos agentes econômicos, a realidade mostra que fatores emocionais e psicológicos frequentemente têm um impacto maior. Por exemplo, um empreendedor pode decidir lançar um novo produto revolucionário não porque tenha certeza matemática de seu sucesso, mas porque sente que o mercado está pronto para algo novo. Esse tipo de decisão impulsionada pelo instinto animal pode ser o catalisador para inovações e mudanças significativas na economia.
Em resumo, a expressão instinto animal capta a ideia de que as decisões de investimento e a dinâmica do mercado são frequentemente mais influenciadas por fatores subjetivos, como emoções e intuições, do que por análises racionais e modelos matemáticos. Keynes e Robinson usaram essa metáfora para criticar a excessiva confiança em modelos econômicos que ignoram a complexidade e a imprevisibilidade do comportamento humano. Ao enfatizar o papel do instinto animal, eles trouxeram à tona a importância dos aspectos psicológicos na economia, destacando que o mercado é, em última análise, um reflexo da natureza humana em toda a sua irracionalidade e imprevisibilidade.