O conto Embargo, de José Saramago, pode ser diretamente relacionado ao conceito econômico da dependência do petróleo e suas implicações para a sociedade moderna. No contexto da história, o protagonista se vê literalmente preso em seu carro após o abastecer com combustível. Essa situação absurda e surreal serve como uma poderosa metáfora para a forma como a sociedade se torna prisioneira de sua própria dependência de recursos energéticos não renováveis, como o petróleo.

Durante a década de 1970, quando o conto foi escrito, o mundo enfrentou uma crise do petróleo que teve um impacto econômico significativo. O choque do petróleo de 1973, causado por um embargo da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), levou a uma escassez global de petróleo e a um aumento drástico nos preços. Este evento evidenciou a vulnerabilidade das economias que dependiam fortemente desse recurso. No conto de Saramago, o embargo se torna uma alegoria para essa crise. A ideia de estar preso no próprio veículo, incapaz de controlá-lo, reflete a sensação de impotência que as nações e indivíduos sentiram durante a crise, quando a escassez de petróleo trouxe à tona a interdependência econômica e a fragilidade da vida moderna, altamente dependente de combustíveis fósseis.

O conto também aborda a alienação gerada pela industrialização. No processo de depender cada vez mais da tecnologia e dos combustíveis, os indivíduos perdem o controle sobre suas próprias vidas, tornando-se escravos de um sistema que parece operar independentemente de sua vontade. A narrativa de Saramago destaca como as pessoas se tornam subordinadas a forças econômicas e tecnológicas que estão além de seu controle, ilustrando o paradoxo da modernidade: a busca por progresso e conveniência leva, ao mesmo tempo, a um estado de confinamento e alienação. Assim, o carro do protagonista, em vez de ser um símbolo de liberdade, como frequentemente é representado, se transforma em uma prisão móvel, refletindo a natureza paradoxal da dependência econômica.

Além disso, o conto Embargo pode ser relacionado ao conceito econômico de externalidades negativas. A dependência do petróleo não apenas coloca os indivíduos e as economias em risco devido à volatilidade dos preços e à escassez de recursos, mas também gera consequências negativas para o meio ambiente e a saúde pública. O conto de Saramago, através de sua narrativa alegórica, antecipa preocupações modernas sobre os custos ocultos do uso desenfreado de combustíveis fósseis, incluindo questões ambientais, como a poluição e as mudanças climáticas. Assim, a prisão do protagonista no carro pode ser vista como uma metáfora para a armadilha em que a sociedade se encontra: presa em um ciclo de consumo que tem consequências prejudiciais para o planeta e para as futuras gerações.

Em resumo, Embargo se aprofunda em questões econômicas e sociais, expondo a relação complexa e muitas vezes paradoxal que a sociedade tem com o petróleo e a tecnologia. Ele explora como a dependência de recursos energéticos pode levar à perda de autonomia, tornando as pessoas e as nações reféns de forças econômicas maiores, e aponta para os riscos inerentes a uma economia construída sobre bases insustentáveis.