A alegoria do minotauro global por Yanis Varoufakis, de 2011, foi gerada para explicar o mecanismo global de reciclagem de excedentes no âmbito das trocas comerciais mundiais arquitetado por Washington e para ilustrar como o próprio mecanismo entrou em colapso a partir da ausência de autocontenção das autoridades estadunidenses em relação ao excesso de financeirização dos fluxos de capital advindos de outros países para Wall Street. Em meio à expansão da crise financeira de 2008 para o continente europeu e para a unidade monetária, vitimando a Grécia drasticamente, a criação da alegoria do minotauro global assimilou o mito grego da Antiguidade como marca da cultura local ao mesmo tempo em que tal alegoria serviu de denúncia à postura alemã no bloco europeu. Em meio ao declínio de um modelo de reciclagem de excedentes no comércio internacional, Varoufakis apontou o discurso de austeridade alemão como cúmplice e conivente dos interesses financeiros de Wall Street. A capacidade de explicar processos econômicos complexos por meio de uma linguagem simples foi testada pela alegoria do minotauro global. A narrativa mitológica conta a história do envio do rei Egeu, de Atenas, de sete meninos e sete meninas para que o minotauro da ilha de Creta devorasse-os e, assim, fosse preservada a paz pelo Mar Egeu entre Creta e Atenas. Por similitude, Varoufakis explicou a estratégia hegemônica dos Estados Unidos tal como fosse um guardião da paz e do comércio internacional a cobrar um tributo regular, apoiando política, econômica e militarmente países após a Segunda Grande Guerra a fim de que esses reaplicassem seus excedentes em títulos e ações nos mercados financeiros de Wall Street.