No romance Maldita, de 2013,  Chuck Palahniuk continua o relato sobre a saga da protagonista Madison, iniciada em Condenada, e sobre a vida pós-morte dessa adolescente paralelo às críticas ao modelo consumista estadunidense, que compõem uma constante nas obras desse escritor. Embora, à primeira vista, o romance Maldita pareça ser uma sátira à doutrinação religiosa em tempos contemporâneos, as imagens e os recursos realizados por Palahniuk conservam a sua atitude contestatória à política econômica que impera nos Estados Unidos. Como ilustração, a alegoria da Madlântida, símbolo maior do consumo e do desperdício no romance, traduz-se numa grande ilha de plástico, fraldas, caixas de suco e outros resíduos despejados e reunidos como lixo escoado no redemoinho do Pacífico Norte. Em Maldita, Madlântida é tida como a Atlântida perdida e reencontrada no mundo contemporâneo. A ilha de poliestireno areado e polímeros colados, como uma ilusão salvífica, redentora, é elogiada por ser um território capaz de resolver muitas deficiências contemporaneidade: a) é a tarefa de reciclagem mais bem sucedida do mundo atual (tornando consumo o pós-consumo); b) como uma balsa flutuante, com uma área do dobro do Texas, que sobe conforme o volume das águas, é um território com maior capacidade de sobreviver às alterações climáticas globais; c) parece ser a solução para a recriação dos habitats definhantes dos ursos polares; e d) por ser uma área de expurgos internacionais, não se abate sobre ela a onerosa carga de impostos. Por meio da Madlântida, a ironia de Palahniuk reside em transformar o centro do problema em solução.

Muito ao contrário do pensamento de salvação ou de melhoria da sociedade por meio do consumo, para a perspectiva irônica do autor norte-americano em suas obras, a prática exacerbada do consumismo eleva o desperdício e o gigantesco lixo mundial, acelera o ritmo de produção industrial afetando as condições climáticas do planeta, reduz a capacidade dos biossistemas não adaptados à velocidade e às exigências dos mercados e aprisiona os indivíduos na exponencialização da dívida. De acordo com o romance Maldita, os eventos cotidianos do consumo prenunciam uma catástrofe: “o ordinário cresce para se tornar uma abominação” (PALAHNIUK, Chuck. Maldita. São Paulo: LeYa, 2014. p.193).