Em 2022, em um terceiro momento de flutuação metafórica a respeito da crise pandêmica, o Ministério da Economia do governo Bolsonaro, sob pressão do próximo pleito eleitoral e com o caráter duradouro da Covid-19, buscou uma forma de integrar à sua estratégia econômica o discurso do combate à pandemia. Nesse sentido, declarar guerra à Covid-19 foi também declarar guerra à insalubridade econômica. Diferente do que fora proferido anteriormente pelo Ministério da Economia, o entendimento foi de que o gasto com a assistência social ampliada por razões da pandemia fazia parte de uma lógica liberal. Nesse sentido, ao contrário de Paulo Guedes buscar referências nas políticas anticíclicas em tempos de crise da escola keynesiana – o que inviabibilizaria completamente a retórica da austeridade –, ele começou a justificar o gasto público com assistência social citando o conceito de renda mínima forjado por Milton Friedman, como uma forma de preservar o pensamento liberal na Economia. Tal conceito habilmente utilizado pela equipe econômica fornece uma ideia de continuidade do processo de apoio à população mais carente, e isso foi conveniente aos interesses da gestão Bolsonaro por estar nas proximidades das eleições presidenciais, entretanto não ficou claro se essa política de apoio perduraria ou se o volume de gastos com a assistência social foi uma solução econômica temporária para reforçar a política bolsonarista até o pleito eleitoral. Paralelamente, o nome do auxílio sofreu também uma substituição com o intuito de se negar uma agenda política de governos anteriores e, como começou a comprometer as anteriores metas fiscais traçadas pelo Ministério da Economia, a artimanha discursiva de Paulo Guedes gerenciou um símile da Economia em Tempos de Pandemia com uma Economia em Tempos de Guerra. Nesse sentido, a cena de uma Economia de Guerra cria um intervalo temporal de exceção que, ao mesmo tempo em que pode desculpar o mau desempenho da atual política liberal da austeridade fiscal – por precisar sair do planejamento inicial ao enfrentar uma catástrofe –, também oportuniza afirmar, no futuro, uma drástica redução dos volumes investidos para a assistência social com o inevitável abrandamento gradativo da crise da Covid-19. Enquanto essa dubiedade discursiva foi preservada pela equipe econômica do governo  Bolsonaro,  a  renda  mínima  de  raiz friedmaniana  foi  ilustrada  como uma estratégia de dinamizar os setores da economia, mas não se reconheceu, com nitidez, se a renda mínima oportunizou uma transferência de renda para  minimizar  os  problemas  da  desigualdade  social  e  suprir  necessidades  imediatas  da  população  pobre  ou  se  foi  mero  instrumento  oportunista (e  contrário  à  retórica  da  austeridade)  a  ser  desmontado  assim  que  um possível triunfo nas eleições pudesse ser decretado.